Mangrulhando o breu da noite
Já está no posto a boeira
Velando o sono da pampa
Na parceria campeira
Choram sangas e banhados
Contraponteados por grilos
Num repetido estribilho
Que a madrugada acalanta
A lua prateia o campo
S’enxergando nas aguadas
E uma estrela desgarrada
Alumbra a frente da estância
Na invernada e nos potreiros
Uma canção costumeira,
Da serenata campeira
Adormecendo distâncias
O galpão dorme tranqüilo
Sobre o catre da coxilha,
Um pai de fogo em vigília,
Campeia o calor das brasas
Ancorada sobre as cinzas
A cambona mira vazia,
A cuia, que ronda o dia,
Guardando o gosto das casas
Os ponchos de alma vermelha
E as asas pingando água
Desaguaxam suas mágoas
Debruçados nos esteios,
A cuscada ressonando
Sobre as rodilhas do laço
E os cavaletes encilhados
Oreiam o suor dos arreios
E a lida vem madrugando
Sangrando o peito dos galos
Que ensaiam o primeiro canto,
Alertando os pirilampos
Que o sol já calçou esporas
E vem atrás do horizonte
Trazendo o dia em reponte
Pelos encontros da aurora
Somente os que sorvem estrelas
Cevada em cuias morenas
Se afinam nas cantilenas
Dessas auroras brazinas
Pois só os madrugadores
Que esperam o sol, estrivados
Trazem esse quadro guardado
No memorial das retinas.