Milonga em Silêncio


A noite guarda um silêncio...
Flor de trevo e maçanilha
Na simples falta de um grilo
Que não cantou sua vigília
Na ronda clara dos campos
Na imensidão da distância
Há um vazio de palavras
Rondando o galpão na estância

De vez em quando algum berro
De vez por outra um mugido
Das vacas pampas na frente
De algum terneiro perdido
Que a noite escondeu a lua
E, cedo assim, não entrega
Mas segue pastorejando
Os terneiros nas macegas

Talvez o dia demore
Quem sabe, logo clareia
E a vida explique o silêncio
Pra quem, solito mateia
Quem já ouviu sua alma
Entende versos tão meus
E sabe que este silêncio
Foi uma benção de Deus

Coisa mais linda o silêncio
Quando se pode escutá-lo
Nas frontes do arvoredo
No galopar de um cavalo
Quando se nota na volta
Coisas que a alma precisa
Pra entender que o silêncio
Pode ser vento e ser brisa

Noite escura, céu de outubro
Escassa a lua e estrelas
Só quem tem alma de campo
Consegue, de longe, vê-las
Mesmo que os olhos se percam
A alma vai mais além
E redescobre a saudade
Achando os olhos de alguém

Talvez o dia demore
Quem sabe, logo clareia
E a vida explique o silêncio
Pra quem solito mateia
Quem já ouviu sua alma
Entende versos tão meus
E sabe que este silêncio
Foi uma benção de Deus